"Tu es Petrus et super hanc petram ædificabo Ecclesiam meam et portæ inferi non prævalebunt adversus eam"

quarta-feira, 31 de março de 2010

SERMÃO DAS SETE PALAVRAS


Nosso Senhor Jesus Cristo, após ser cravado na Santa Cruz para sofrer a Paixão a fim de nos salvar, proferiu sete Palavras que ficaram consignadas no coração da Igreja. Essas Palavras de Cristo na Cruz, objeto de meditação dos Santos Padres e Doutores, compõem um tesouro singular que o Senhor nos deixou no momento em que consumava o Mistério de nossa Redenção.

"Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem"

No auge do sofrimento, Cristo não perde a dimensão da fragilidade do ser humano e implora o perdão pra nossas culpas. Seu sangue derramado na cruz nos torna limpos para voltar à casa paterna. Em meio à humanidade devastada pelo pecado, em meio ao povo enganado que pedia a morte do Cordeiro inocente, Cristo tem compaixão e pede o perdão para aqueles que o condenam. Neste momento final, Cristo retoma o ensino que outrora tinha proferido: “Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem” (Mt 5,44). Dessa forma ele deixa claro a necessidade e a importância do perdão, necessidade essa consignada na oração que Ele mesmo ensinou a seus discípulos: “perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam” (Mt 6,12).

"Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso".

Quando Cristo profere a segunda Palavra na Cruz, observamos dois ladrões crucificados, um de cada lado. Nestes dois ladrões vemos a prefiguração de duas atitudes que podemos abraçar em nossa vida: a atitude do desespero em meio ao sofrimento, zombando da salvação e, por conseguinte do Salvador; e a atitude de reconhecimento e confissão do pecado, resignação em meio ao sofrimento presente, com vistas na esperança da glória futura. Que ensino grandioso recebemos de Nosso Senhor ao conceder ao penitente arrependido a Salvação eterna: hoje estarás comigo no paraíso! Com estas palavras salvíficas Jesus nos mostra que se nos arrependermos dos nossos pecados, O reconhecermos como nosso Salvador (cf. Jo 1,12) e O buscarmos diligentemente, sem dúvidas estaremos com Ele.

"Mulher, eis aí o teu filho. Filho eis aí a tua Mãe!"

Na terceira Palavra de Cristo na Cruz, em meio a todo o sofrimento, Jesus mais uma vez, numa prova inequívoca de amor à humanidade, nos dá a graça de termos a Sua santa Mãe por nossa mãe! Esta Palavra nos revela fatos muito importantes, é uma prova de que Nossa Senhora não possuía outros filhos, pois caso contrário não poderia estar desamparada neste momento, revela-nos que era viúva de São José, que também não se encontrava ao seu lado. Outra revelação magnífica dessa Palavra é a necessidade de tão boa Mãe a nos acompanhar em nossa caminhada rumo ao Salvador, ora todos os atos de Nosso Senhor Jesus Cristo, são atos salvíficos, assim, sendo, ao nos dar Sua Mãe como nossa Mãe, Jesus Cristo visava a nossa salvação. João neste momento, o discípulo amado, era a prefiguração de cada um de nós. E o que ele fez ao receber tamanha graça? Imediatamente “o discípulo a levou para a sua casa”. Todo verdadeiro Cristão deve ter por Mãe Nossa Senhora, que insistentemente só tem um único pedido a nos fazer: “Fazei tudo o que Ele vos disser !” (Jo 2,5)

"Elói, Elói, lammá sabactáni? - Meus Deus, meus Deus, por que me abandonastes?"

Nesta quarta Palavra, Cristo expressa a dor de carregar em seu corpo santo todo o pecado da humanidade, a fim de redimi-la. Ele levou sobre si os nossos pecados, as nossas dores e as nossas transgressões, de modo que se encontrava desfigurado. O Pai ao olhar o Filho não o reconhece, mas vê nele as nossas misérias, a podridão dos nossos pecados. O desviar do rosto do Pai que seria dado a nós, foi dado a Jesus naquela hora. Bendita solidão de Jesus, pois ali fomos redimidos e reconciliados com o Pai! Cumpre saber que Jesus estava sobrecarregado de todos os pecados do mundo inteiro e por isso, ainda que pessoalmente fosse o mais santo de todos os homens, tendo de satisfazer, por todos, os pecados deles, era tido pelo pior pecador do mundo e como tal fez-se réu de todos e ofereceu-se para pagar por todos. E porque nós merecíamos ser abandonados eternamente no inferno, no desespero eterno, quis ele ser abandonado ou entregue a uma morte privada de todo o alívio, para assim livrar-nos da morte eterna.

"Tenho Sede!"

Grande foi a sede corporal que Jesus sofreu na cruz, já pelo sangue derramado no horto, já no pretório pela flagelação e coroação de espinhos, e mais ainda na mesma cruz onde de suas mãos e pés cravados escorriam rios de sangue como quatro fontes naturais. Sua sede espiritual foi, porém, muito maior, isto é, o desejo ardente que tinha de salvar todos os homens e de sofrer ainda mais por nós em prova de seu amor, e está sede brota da fonte do amor. Essa Palavra de Jesus na Cruz nos remete ao momento em que Ele pede de beber à samaritana (cf. Jo 4,1-15) no poço de Jacó, como se pedisse a cada um de nós, a nossa vida, a nossa alma para lhe saciar a sede. Ele afirma para a samaritana que Ele é a água viva (cf. Jr 2,13), quem Dele beber não terá sede.

 "Tudo está consumado!"

Essa penúltima Palavra de Cristo na Cruz vem selar todas as profecias a seu respeito. Nestes momentos finais Cristo nos diz com essa Palavra que toda a vontade do Pai para nos salvar foi cumprida Nele e por Ele. Com essa Palavra Jesus nos ensina a perseverar em nossa fé até o fim. Confiando Nele (cf. Fl 4,13) não devemos jamais olhar para trás (cf. Gen 19,26; Lc 9,62), mas, seguir sempre em direção ao alvo (cf. Fl 3,14), à nossa meta: a salvação que nos é ofertada gratuitamente por Deus.

"Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!"

Consumada as Escrituras, Nosso Senhor Jesus Cristo livremente entrega o espírito ao Pai, realizando a redenção definitiva da humanidade. É a realização do sacrifício da Nova e Eterna Aliança. Com essa Palavra Jesus nos ensina a entregar-nos sempre, livre e totalmente ao Pai, que está sempre de braços abertos a nos esperar. Iluminados por essa Santa Palavra do Senhor possamos confiar-nos sempre a Ele, fazendo assim a vontade do Pai. O Rei Davi punha toda a sua esperança no futuro Redentor, dizendo: “Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito; pois vós me remistes, Senhor Deus da verdade” (Sl 39,6). Quanto mais nós devemos confiar em Jesus Cristo, que já realizou a nossa redenção! Digamos-lhe, pois, com grande confiança: “Vós me remistes, Senhor, por isso em vossas mãos encomendo o meu espírito!

terça-feira, 30 de março de 2010

INDIFERENÇA? NUNCA!


Mais uma Semana Santa a se comemorar.Trazemos, sobretudo em nossos corações, a recordação dos sagrados mistérios da paixão e morte de Jesus, a se contemplar no drama do Calvário.

Nesse momento tão forte para nossa espiritualidade cristã, injustificável qualquer atitude de apatia e frieza, perante o surpreendente amor de Deus para com cada um e cada uma de todos nós.É a razão pela qual, de fato, nos expressamos: Indiferença? Nunca!

Jamais se apaga de nossa lembrança a recordação do visual do presépio, com todo aquele aspecto de tamanha ternura do Menino Deus. E daquela meiga criança, de fascinante candura e inocência, não de qualquer criança, mas de um Deus feito homem, em seu infinito amor para com a humanidade.

E agora, na Semana Santa, tudo ao contrário: o mesmo Jesus de Belém, a nos ser apresentado como vítima, oferecida na morte crudelíssima da cruz, pelos pecados do mundo. Foi o pesado tributo pago pelo Divino Redentor, conforme as palavras do profeta Isaías, no mais impressionante realismo: “Tão desfigurado Ele estava, que não parecia um ser humano. Era desprezado como o último dos mortais, homem coberto de dor e sofrimento. Mas Ele foi ferido por causa de nossos pecados. Meu Servo, o Justo, justificará inúmeros homens, carregando sobre Si suas culpas. ( Jer 52)

Talvez por esse motivo, a razão do provérbio tantas vezes citado: “O justo paga pelos pecadores.”Com igual detalhe deprimente, também o profeta Isaías nos descreve: “Ofereci as costas para me baterem, e as faces para me arrancarem a barba; não desviei o rosto de bofetadas e cusparadas.”( Is 50,6)

Se nos sentimos consternados com os sofrimentos físicos do Divino Salvador, que dizermos, então, das agruras de seus sofrimentos morais, ao suportar grosseira ingratidão.

Assim, no desenrolar do iníquo e hediondo processo de julgamento, como golpe de inclemente punhalada em seu coração, o Bom Jesus teve de ouvir o clamor de ódio da multidão ali reunida: “Crucifica-o; crucifica-o” .

A poluição sonora de nossos dias, provoca um ambiente totalmente desfavorável ao recolhimento e à reflexão. Mas, sobretudo nos dias de Semana Santa, importa que nos esforcemos por nos concentrarmos numa reflexão mais profunda, sobre nossa responsabilidade pela morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, não nos omitindo na resposta de correspondência que se faz esperar, com o determinado propósito da mais sincera conversão do pecado para a vida de maior união com Deus.

Jesus Crucificado jamais se consideraria um fracasso. Ao contrário, foi a manifestação do amor máximo de Deus, em favor da humanidade pecadora.

Prevenindo-nos de qualquer indiferença perante o mistério do Calvário, reflitamos sobre as palavras do apóstolo São Paulo: “ Jesus humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz. Por isso, Deus o exaltou, e lhe deu o nome que está acima de todo nome. Assim , ao nome de Jesus, todo joelho se dobre, e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor. ( Fl 2, 8-10)

Por Dom Roberto Gomes Guimarães

segunda-feira, 29 de março de 2010

CORDEIRO IMOLADO, REINA SOBRE NÓS!




    Durante as cinco semanas da Quaresma preparamos nossos corações pela oração, pela penitência e pela caridade. Ontem, Domingo de Ramos, celebramos a Paixão do Senhor, iniciando a Semana Santa, tempo forte para renovarmos a nossa adesão ao Cristo que, na liberdade de Filho, vai ao encontro da morte, e sua morte é redentora,  pois o Justo morreu pelos injustos (Cf. 1 Pe 3, 18),  Ele, o santo, se fez maldição por nós, e como ladrão foi condenado, unicamente para cumprir a vontade do Pai , sanar a culpa de Adão e  reconciliar a humanidade com Deus. 

   No Evangelho de Lucas 19, 28 -40, vemos Jesus que, para realizar o mistério de sua morte e ressurreição, entrou em Jerusalém, montado num jumentinho, sendo aclamado pela multidão dos discípulos que o seguia e que louvava a Deus por todos os milagres que tinha visto. Essa mesma multidão que aclamava ao Senhor, proclamando-o rei, pouco depois, instigada pelos inimigos de Jesus, estava diante de Pilatos gritando "crucifica-o!".

   É preciso reconhecer e aclamar Jesus como nosso bendito Salvador e Rei a cada dia de nossas vidas, como a multidão que o acolheu em Jerusalém, afinal, também somos seus discípulos. Mas não podemos esquecer que "temos este tesouro em vasos de barro" (2Cor 4, 7) e que necessitamos estreitar cada vez mais nossa vida de intimidade com o Senhor, configurarmos nossas vidas às Sagradas páginas do Evangelho, para não nos deixarmos seduzir pelas inúmeras vozes que hoje gritam "Seja Crucificado!". Muitos são os inimigos de Cristo, os que querem  que Jesus morra, os que querem que Ele, o Rei das nossas vidas, seja extirpado da sociedade e da vida do povo, muitos são, em nosso meio, os "Herodes" que desprezam e zombam da presença Jesus.

   O grito do "Crucifica-o!" vem hoje com uma nova roupagem. Nem sempre se fala abertamente contra Cristo, temos que tomar cuidado, pois o lobo está vestido de cordeiro. A estratégia hoje é de apresentar um evangelho mais leve, onde não existe pecado , certo e errado, céu e inferno, o importante é "acreditar em Deus e fazer o Bem!"  Um evangelho que nos apresenta um Jesus "bonzinho" que  se adequa às nossas conveniências... Ou seja, uma fé que não exige de nós um compromisso mais sério com Deus, com a Igreja e com o próximo.  

   Estreitar a amizade com o Senhor e Configurar-se ao Cristo "Servo sofredor" neste mundo permissivo, hedonista e cada vez mais influênciado pelo paganismo, é viver de acordo com as palavras do Apóstolo Paulo: " Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo. Estando embora vivos, somos a toda hora entregues a morte por causa de Jesus, para que também a vida de Jesus apareça em nossa carne mortal. Assim em nós opera a morte, e em vós a vida." (2 Cor 4, 10).

   O Senhor nos convida a sermos "Cireneus" nestes tempos tão dificeis em que estamos atravessando, a não negarmos a cruz, os sofrimentos, as humilhações e a morte de nós mesmos por amor ao Reino de Deus e para a salvação de tantas almas que o Senhor ama e deseja.  Acolhamos Jesus em nossas vidas com nossos ramos e "hosanas ao Filho de Davi", mas não o abandonemos na sua hora mais escura. Não tenhamos dúvidas de que o Sangue de Jesus cairá sobre os ramos que carregamos como sinal de nossa fidelidade e de nosso amor ao Senhor, e os fará florescer na árvore redentora da cruz. Subamos o Calvário junto do Senhor e entreguemo-nos a morte com Jesus e por causa de Jesus, para que outros recebam a Vida que brota da cruz!

   Aclamemos a Cristo, nosso Redentor e Rei, consagrando nossas vidas e a nossa nação ao seu Sagrado Coração, com as palavras da oração do Cardeal Leme,  por ocasião da inauguração do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, em 12 de outubro de 1931:

“Senhor Jesus, Redentor nosso, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que sois para o mundo fonte de luz, de paz, de progresso e de felicidade, Salvador que nos remistes com o sacrifício de Vossa vida, eis a vossos pés representado o Brasil, a Terra de Santa Cruz, que se consagra solenemente a vosso Coração sacratíssimo e vos reconhece para sempre seu Rei e Senhor.

Vós escolhestes no céu brasileiro a vossa cruz, de onde jamais poderá ser apagada. O Rei e Senhor Jesus reina sobre nossa Pátria. Queremos que o Brasil viva e prospere sob os vossos olhares. Queremos que o vosso povo seja sempre iluminado pela verdade de vosso Evangelho.

"Reina, ó Cristo Rei!

"Reina, ó Cristo Redentor!

"Ser brasileiro significa crer em Jesus Cristo, amar a Jesus Cristo, e esta sagrada imagem seja o símbolo do vosso domínio, de vosso amparo, da vossa predileção, da vossa bênção que paira sobre o Brasil e sobre todos os brasileiros.

Amém".

ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO NOTIFICA COLUMBIA PICTURES


   A Arquidiocese do Rio de Janeiro quer receber da Columbia Pictures uma idenização por uso indevido de imagens do Cristo Redentor, maior símbolo religioso do Brasil, de propriedade da Mitra Arquiepiscopal de São Sebastião do Rio de Janeiro, Em uma cena do filme "2012", do cineasta Roland Emmerich, onde o monumento é destruído por um maremoto, que prenuncia o fim do mundo. 

   Na pré-produção do filme, a Columbia consultou a Arquidiocese do Rio de Janeiro sobre a possibilidade de levar a imagem do Cristo Redentor às telas. Quando foi notificada de que o monumento seria destruído, a arquidiocese negou o pedido do estúdio cinematográfico, que mesmo assim optou por fazer uso da imagem.

   O estúdio norte-americano foi notificado em dezembro do ano passado, um mês após o lançamento do filme aqui no Brasil. A Arquidiocese do Rio deseja uma negociação com a Columbia para que não seja necessário entrar com uma ação judicial exigindo ressarcimento e espera que até abril a situação esteja resolvida. Nenhum valor ainda foi decidido, mas a indenização, por exigência da arquidiocese, terá que vir acompanhada de uma retratação pública.

sábado, 20 de março de 2010

PAPA PEDE ORAÇÕES PELA IGREJA NA IRLANDA


Em anexo à Carta do Papa aos Católicos na Irlanda está uma oração pela Igreja daquele país. O Papa recomenda às orações dos fiéis do mundo inteiro a Igreja da Irlanda:

ORAÇÃO PELA IGREJA NA IRLANDA
Deus dos nossos pais,
Renova-nos na fé que é para nós vida e salvação
na esperança que promete perdão e renovação interior,
na caridade que purifica e abre os nossos corações
para te amar, e em ti, amar todos os nossos irmãos e irmãs.

Senhor Jesus Cristo
possa a Igreja na Irlanda renovar o seu milenário compromisso
na formação dos nossos jovens no caminho da verdade,
da bondade, da santidade e do serviço generoso à sociedade.

Espírito Santo, consolador, advogado e guia,
inspira uma nova primavera de santidade e de zelo apostólico
para a Igreja na Irlanda.

Possa a nossa tristeza e as nossas lágrimas
o nosso esforço sincero por corrigir os erros do passado,
e o nosso firme propósito de correcção,
dar abundantes frutos de graça
para o aprofundamento da fé
nas nossas famílias, paróquias, escolas e associações,
e para o progresso espiritual da sociedade irlandesa,
e para o crescimento da caridade, da justiça, da alegria
e da paz, na inteira família humana.

A ti, Trindade,
com plena confiança na amorosa proteção de Maria,
Rainha da Irlanda, nossa Mãe,
e de São Patrício, de Santa Brígida e de todos os santos,
recomendamos a nós próprios, os nossos jovens,
e as necessidades da Igreja na Irlanda.

Amém.

CARTA DO PAPA BENTO XVI AOS CATÓLICOS NA IRLANDA SOBRE OS CASOS DE PEDOFILIA




1. Amados Irmãos e Irmãs da Igreja na Irlanda, é com grande preocupação que vos escrevo como Pastor da Igreja universal. Como vós, fiquei profundamente perturbado com as notícias dadas sobre o abuso de crianças e jovens vulneráveis da parte de membros da Igreja na Irlanda, sobretudo de sacerdotes e religiosos. Não posso deixar de partilhar o pavor e a sensação de traição que muitos de vós experimentastes ao tomar conhecimento destes actos pecaminosos e criminais e do modo como as autoridades da Igreja na Irlanda os enfrentaram.
Como sabeis, convidei recentemente os bispos irlandeses para um encontro aqui em Roma a fim de referir sobre o modo como trataram estas questões no passado e indicar os passos que empreenderam para responder a esta grave situação. Juntamente com alguns altos Prelados da Cúria Romana ouvi quanto tinham para dizer, quer individualmente quer em grupo, enquanto propunham uma análise dos erros cometidos e das lições aprendidads, e uma descrição dos programas e dos protocolos hoje existente. As nossas reflexões foram francas e construtivas. Alimento a confiança de que, como resultado, os bispos se encontrem agora numa posição mais forte para levar por diante a tarefa de reparar as injustiças do passado e para enfrentar as temáticas mais amplas relacionadas com o abuso dos menores segundo modalidades conformes com as exigências da justiça e com os ensinamentos do Evangelho.

2. Por meu lado, considerando a gravidade destas culpas e a resposta muitas vezes inadequada que lhes foi reservada da parte das autoridades eclesiásticas no vosso país,, decidi escrever esta Carta Pastoral para vos expressar a minha proximidade, e para vos propor um caminho de cura, de renovação e de reparação.

Na realidade, como muitos no vosso país revelaram, o problema do abuso dos menores não é específico nem da Irlanda nem da Igreja. Contudo a tarefa que agora tendes à vossa frente é enfrentar o problema dos abusos que se verificaram no âmbito da comunidade católica irlandesa e de o fazer com coragem e determinação. Ninguém pense que esta dolorosa situação se resolverá em pouco tempo. Foram dados passos em frente positivos, mas ainda resta muito para fazer. É preciso perseverança e oração, com grande confiança na força restabelecedora da graça de Deus.

Ao mesmo tempo, devo expressar também a minha convicção de que, para se recuperar desta dolorosa ferida, a Igreja na Irlanda deve em primeiro lugar reconhecer diante do Senhor e diante dos outros, os graves pecados cometidos contra jovens indefesos. Esta consciência, acompanhada de sincera dor pelo dano causado às vítimas e às suas famílias, deve levar a um esforço concentrado para garantir a protecção dos jovens em relação a semelhantes crimes no futuro.

Enquanto enfretais os desafios deste momento, peço-vos que vos recordeis da «rocha de que fostes talhados» (Is 51, 1). Reflecti sobre as contribuições generosas, com frequência heróicas, oferecidas à Igreja e à humanidade como tal pelas passadas gerações de homens e mulheres irlandeses, e deixai que isto gere impulso para um honesto auto-exame e um convicto programa de renovação eclesial e individual. A minha oração é por que, assistida pela intercessão dos seus muitos santos e purificada pela penitência, a Igreja na Irlanda supere a presente crise e volte a ser uma testemunha convincente da verdade e da bondade de Deus omnipotente, manifestadas no seu Filho Jesus Cristo.

3. Historicamente os católicos da Irlanda demonstraram-se uma grande força de bem quer na pátria quer fora. Monges célticos, como São Colombano, difundiram o Evangelho na Europa Ocidental lançando as bases da cultura monástica medieval. Os ideais de santidade, de caridade e de sabedoria transcendente que derivam da fé cristã, encontraram expressão na construção de igrejas e mosteiros e na instituição de escolas, bibliotecas e hospitais que consolidaram a identidade espiritual da Europa. Aqueles missionários irlandeses tiraram a sua força e inspiração da fé sólida, da guia forte e dos comportamentos morais rectos da Igreja na sua terra natal.

A partir do século XVI, os católicos na Irlanda sofreram um longo período de perseguição, durante o qual lutaram para manter viva a chama da fé em circunstâncias perigosas e difíceis. Santo Oliver Plunkett, o Arcebispo mártir de Armagh, é o exemplo mais famoso de uma multidão de corajosos filhos e filhas da Irlanda dispostos a dar a própria vida pela fidelidade ao Evangelho. Depois da Emancipação Católica, a Igreja teve a liberdade de crescer de novo. Famílias e inúmeras pessoas que tinham preservado a fé durante os tempos das provações tornaram-se a centelha de um grande renascimento do catolicismo irlandês no século XIX. A Igreja forneceu escolarização, sobretudo aos pobres, e isto deu uma grande contribuição à sociedade irlandesa. Um dos frutos das novas escolas católicas foi um aumento de vocações: gerações de sacerdotes, irmãs e irmãos missionários deixaram a pátria para servir em todos os continentes, sobretudo no mundo de língua inglesa. Foram admiráveis não só pela vastidão do seu número, mas também pela robustez da fé e pela solidez do seu empenho pastoral. Muitas dioceses, sobretudo em África, América e Austrália, beneficiaram da presença de clero e religiosos irlandeses que anunciaram o Evangelho e fundaram paróquias, escolas e universidades, clínicas e hospitais, que serviram tanto os católicos, como a sociedade em geral, com atenção especial às necessidades dos pobres.

Em quase todas as famílias da Irlanda houve alguém – um filho ou uma filha, uma tia ou um tio – que deu a própria vida à Igreja. Justamente as famílias irlandesas têm em grande estima e afecto os seus queridos, que ofereceram a própria vida a Cristo, partilhando o dom da fé com outros e actualizando-a num serviço amoroso a Deus e ao próximo.

4. Contudo, nos últimos decénios a Igreja no vosso país teve que se confrontar com novos e graves desafios à fé que surgiram da rápida transformação e secularização da sociedade irlandesa. Verificou-se uma mudança social muito rápida, que muitas vezes atingiu com efeitos hostis a tradicional adesão do povo ao ensinamento e aos valores católicos. Com frequência as práticas sacramentais e devocionais que sustentam a fé e a tornam capaz de crescer, como por exemplo a confissão frequente, a oração quotidiana e os ritos anuais, não foram atendidas. Determinante foi também neste período a tendência, até da parte de sacerdotes e religiosos, para adoptar modos de pensamento e de juízo das realidades seculares sem referência suficiente ao Evangelho. O programa de renovação proposto pelo Concílio Vaticano II por vezes foi mal compreendido e na realidade, à luz das profundas mudanças sociais que se estavam a verificar, não era fácil avaliar o modo melhor de o realizar. Em particular, houve uma tendência, ditada por recta intenção mas errada, a evitar abordagens penais em relação a situações canónicas irregulares. É neste contexto geral que devemos procurar compreender o desconcertante problema do abuso sexual dos jovens, que contribuiu em grande medida para o enfraquecimento da fé e para a perda do respeito pela Igreja e pelos seus ensinamentos.

Só examinando com atenção os numerosos elementos que deram origem à crise actual é possível empreender uma diagnose clara das suas causas e encontrar remédios eficazes. Certamente, entre os factores que para ela contribuíram podemos enumerar: procedimentos inadequados para determinar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa; insuficiente formação humana, moral, intelectual e espiritual nos seminários e nos noviciados; uma tendência na sociedade a favorecer o clero e outras figuras com autoridade e uma preocupação inoportuna pelo bom nome da Igreja e para evitar os escândalos, que levaram como resultado à malograda aplicação das penas canónicas em vigor e à falta da tutela da dignidade de cada pessoa. É preciso agir com urgência para enfrentar estes factores, que tiveram consequências tão trágicas para as vidas das vítimas e das suas famílias e obscureceram a luz do Evangelho a tal ponto, ao qual nem sequer séculos de perseguição não tinham chegado.

5. Em diversas ocasiões desde a minha eleição para a Sé de Pedro, encontrei vítimas de abusos sexuais, assim como estou disponível a fazê-lo no futuro. Detive-me com elas, ouvi as suas vicissitudes, tomei nota do seu sofrimento, rezei com e por elas. Precedentemente no meu pontificado, na preocupação por enfrentar este tema, pedi aos Bispos da Irlanda, por ocasião da visita ad limina de 2006, que «estabelecessem a verdade de quanto aconteceu no passado, tomassem todas as medidas adequadas para evitar que se repita no futuro, garantissem que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curassem as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes» (Discurso aos Bispos da Irlanda, 28 de Outubro de 2006).

Com esta Carta, pretendo exortar todos vós, como povo de Deus na Irlanda, a reflectir sobre as feridas infligidas ao corpo de Cristo, sobre os remédios, por vezes dolorosos, necessários para as atar e curar, e sobre a necessidade de unidade, de caridade e de ajuda recíproca no longo processo de restabelecimento e de renovação eclesial. Dirijo-me agora a vós com palavras que me vêm do coração, e desejo falar a cada um de vós individualmente e a todos como irmãos e irmãs no Senhor.

6. Às vítimas de abuso e às suas famílias
Sofrestes tremendamente e por isto sinto profundo desgosto. Sei que nada pode cancelar o mal que suportastes. Foi traída a vossa confiança e violada a vossa dignidade. Muitos de vós experimentastes que, quando éreis suficientemente corajosos para falar de quanto tinha acontecido, ninguém vos ouvia. Quantos de vós sofrestes abusos nos colégios deveis ter compreendido que não havia modo de evitar os vossos sofrimentos. É comprensível que vos seja difícil perdoar ou reconciliar-vos com a Igreja. Em seu nome expresso abertamente a vergonha e o remorso que todos sentimos. Ao mesmo tempo peço-vos que não percais a esperança. É na comunhão da Igreja que encontramos a pessoa de Jesus Cristo, ele mesmo vítima de injustiça e de pecado. Como vós, ele ainda tem as feridas do seu injusto padecer. Ele compreende a profundeza dos vossos padecimentos e o persistir do seu efeito nas vossas vidas e nos relacionamentos com os outros, incluídas as vossas relações com a Igreja. Sei que alguns de vós têm dificuldade até de entrar numa igreja depois do que aconteceu. Contudo, as mesmas feridas de Cristo, transformadas pelos seus sofrimentos redentores, são os instrumentos graças aos quais o poder do mal é infrangido e nós renascemos para a vida e para a esperança. Creio firmemente no poder restabelecedor do seu amor sacrifical – também nas situações mais obscuras e sem esperança – que traz a libertação e a promessa de um novo início.

Dirigindo-me a vós como pastor, preocupado pelo bem de todos os filhos de Deus, peço-vos com humildade que reflictais sobre quanto vos disse. Rezo a fim de que, aproximando-vos de Cristo e participando na vida da sua Igreja – uma Igreja purificada pela penitência e renovada na caridade pastoral – possais redescobrir o amor infinito de Cristo por todos vós. Tenho confiança em que deste modo sereis capazes de encontrar reconciliação, profunda cura interior e paz.

7. Aos sacerdotes e aos religiosos que abusaram dos jovens

Traístes a confiança que os jovens inocentes e os seus pais tinham em vós. Por isto deveis responder diante de Deus omnipotente, assim como diante de tribunais devidamente constituídos. Perdestes a estima do povo da Irlanda e lançastes vergonha e desonra sobre os vossos irmãos. Quantos de vós sois sacerdotes violastes a santidade do sacramento da Ordem Sagrada, no qual Cristo se torna presente em nós e nas nossas acções. Juntamente com o enorme dano causado às vítimas, foi perpetrado um grande dano à Igreja e à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa.

Exorto-vos a examinar a vossa consciência, a assumir a vossa responsabilidade dos pecados que cometestes e a expressar com humildade o vosso pesar. O arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento. Oferecendo orações e penitências por quantos ofendestes, deveis procurar reparar pessoalmente as vossas acções. O sacrifício redentor de Cristo tem o poder de perdoar até o pecado mais grave e de obter o bem até do mais terrível dos males. Ao mesmo tempo, a justiça de Deus exige que prestemos contas das nossas acções sem nada esconder. Reconhecei abertamente a vossa culpa, submetei-vos às exigências da justiça, mas não desespereis da misericórdia de Deus.

8. Aos pais

Ficastes profundamente transtornados ao tomar conhecimento das coisas terríveis que tiveram lugar naquele que deveria ter sido o ambiente mais seguro para todos. No mundo de hoje não é fácil construir um lar doméstico e educar os filhos. Eles merecem crescer num ambiente seguro, amados e queridos, com um forte sentido da sua identidade e do seu valor. Têm direito a ser educados nos valores morais autênticos, radicados na dignidade da pessoa humana, a serem inspirados pela verdade da nossa fé católica e a aprender modos de comportamento e de acção que os levem a uma sadia estima de si e à felicidade duradoura. Esta tarefa nobre e exigente está confiada em primeiro lugar a vós, seus pais. Exorto-vos a fazer a vossa parte para garantir a melhor cura possível dos jovens, quer em casa quer na sociedade em geral, enquanto que a Igreja, por seu lado, continua a pôr em prática as medidas adoptadas nos últimos anos para tutelar os jovens nos ambients paroquiais e educativos. Enquanto dais continuidade às vossas importantes responsabilidades, certifico-vos de que estou próximo de vós e que vos dou o apoio da minha oração.

9. Aos meninos e aos jovens da Irlanda

Desejo oferecer-vos uma particular palavra de encorajamento. A vossa experiência de Igreja é muito diversa da que fizeram os vossos pais e avós. O mundo mudou muito desde quando eles tinham a vossa idade. Não obstante, todos, em cada geração, estão chamados a percorrer o mesmo caminho da vida, sejam quais forem as circunstâncias. Todos estamos escandalizados com os pecados e as falências de alguns membros da Igreja, sobretudo de quantos foram escolhidos de modo especial para guiar e servir os jovens. Mas é na Igreja que encontrareis Jesus Cristo que é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Hb 13, 8). Ele ama-vos e ofereceu-se a si próprio na Cruz por vós. Procurai uma relação pessoal com ele na comunhão da sua Igreja, porque ele nunca trairá a vossa confiança! Só ele pode satisfazer as vossas expectativas mais profundas e conferir às vossas vidas o seu significado mais pleno orientando-as para o serviço ao próximo. Mantende o olhar fixo em Jesus e na sua bondade e protegei no vosso coração a chama da fé. Juntamente com os vossos irmãos católicos na Irlanda olho para vós a fim de que sejais discípulos fiéis do nosso Deus e contribuais com o vosso entusiasmo e com o vosso idealismo tão necessários para a reconstrução e para o renovamento da nossa amada Igreja.

10. Aos sacerdotes e aos religiosos da Irlanda

Todos nós estamos a sofrer como consequência dos pecados dos nossos irmãos que traíram uma ordem sagrada ou não enfrentaram de modo justo e responsável as acusações de abuso. Perante o ultraje e a indignação que isto causou, não só entre os leigos mas também entre vós e as vossas comunidades religiosas, muitos de vós sentis-vos pessoalmente desanimados e também abandonados. Além disso, estou consciente de que aos olhos de alguns sois culpados por associação, e considerados como que de certo modo responsáveis pelos delitos de outros. Neste tempo de sofrimento, desejo reconhecer-vos a dedicação da vossa vida de sacerdotes e de religiosos e dos vossos apostolados, e convido-vos a reafirmar a vossa fé em Cristo, o vosso amor à sua Igreja e a vossa confiança na promessa de redenção, de perdão e de renovação interior do Evangelho. Deste modo, demonstrareis a todos que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rm 5, 20).

Sei que muitos de vós estais desiludidos, transtornados e encolerizados pelo modo como estas questões foram tratadas por alguns dos vossos superiores. Não obstante, é essencial que colaboreis de perto com quantos têm a autoridade e que vos comprometais para fazer com que as medidas adoptadas para responder à crise sejam verdadeiramente evangélicas, justas e eficazes. Sobretudo, exorto-vos a tornar-vos cada vez mais claramente homens e mulheres de oração, seguindo com coragem o caminho da conversão, da purificação e da reconciliação. Deste modo, a Igreja na Irlanda haurirá nova vida e vitalidade do vosso testemunho ao poder redentor do Senhor tornado visível na vossa vida.

11. Aos meus irmãos bispos

Não se pode negar que alguns de vós e dos vossos predecessores falhastes, por vezes gravemente, na aplicação das normas do direito canónico codificado há muito tempo sobre os crimes de abusos de jovens. Foram cometidos sérios erros no tratamento das acusações. Compreendo como era difícil lançar mão da extensão e da complexidade do problema, obter informações fiáveis e tomar decisões justas à luz de conselhos divergentes de peritos. Contudo, deve-se admitir que foram cometidos graves erros de juízo e que se verificaram faltas de governo. Tudo isto minou seriamente a vossa credibilidade e eficiência. Aprecio os esforços que fizestes para remediar os erros do passado e para garantir que não se repitam. Além de pôr plenamente em prática as normas do direito canónico ao enfrentar os casos de abuso de jovens, continuai a cooperar com as autoridades civis no âmbito da sua competência. Claramente, os superiores religiosos devem fazer o mesmo. Também eles participaram em recentes encontros aqui em Roma destinados a estabelecer uma abordagem clara e coerente destas questões. É obrigatório que as normas da Igreja na Irlanda para a tutela dos jovens sejam constantemente revistas e actualizadas e que sejam aplicadas de modo total e imparcial em conformidade com o direito canónico.

Só uma acção decidida levada em frente com total honestidade e transparência poderá restabelecer o respeito e a benquerença dos Irlandeses em relação à Igreja à qual consagrámos a nossa vida. Isto deve brotar, antes de tudo, do exame de vós próprios, da purificação interior e da renovação espiritual. O povo da Irlanda espera justamente que sejais homens de Deus, que sejais santos, que vivais com simplicidade, que procureis todos os dias a conversão pessoal. Para ele, segundo a expressão de Santo Agostinho, sois bispos; contudo estais chamados a ser com eles seguidores de Cristo (cf. Discurso 340, 1). Exorto-vos portanto a renovar o vosso sentido de responsabilidade diante de Deus, a crescer em solidariedade com o vosso povo e a aprofundar a vossa solicitude pastoral por todos os membros da vossa grei. Em particular, sede sensíveis à vida espiritual e moral de cada um dos vossos sacerdotes. Sede um exemplo com as vossas próprias vidas, estai-lhes próximos, ouvi as suas preocupações, oferecei-lhes encorajamento neste tempo de dificuldades e alimentai a chama do seu amor a Cristo e o seu compromisso no serviço dos seus irmãos e irmãs.

Também os leigos devem ser encorajados a fazer a sua parte na vida da Igreja. Fazei com que sejam formados de modo que possam dizer a razão, de maneira articulada e convincente, do Evangelho na sociedade moderna (cf. 1 Pd 3, 15), e cooperem mais plenamente na vida e na missão da Igreja. Isto, por sua vez, ajudar-vos-á a ser de novo guias e testemunhas credíveis da verdade redentora de Cristo.

12. A todos os fiéis da Irlanda

A experiência que um jovem faz da Igreja deveria dar sempre fruto num encontro pessoal e vivificante com Jesus Cristo numa comunidade que ama e que oferece alimento. Neste ambiente, os jovens devem ser encorajados a crescer até à sua plena estatura humana e espiritual, a aspirar por ideais nobres de santidade, de caridade e de verdade e a inspirar-se nas riquezas de uma grande tradição religiosa e cultural. Na nossa sociedade cada vez mais secularizada, na qual também nós critãos muitas vezes temos dificuldade em falar da dimensão transcendente da nossa existência, precisamos de encontrar novos caminhos para transmitir aos jovens a beleza e a riqueza da amizade com Jesus Cristo na comunhão da sua Igreja. Ao enfrentar a presente crise, as medidas para se ocupar de modo justo de cada um dos crimes são essenciais, mas sozinhas não são suficientes: há necessidade de uma nova visão para inspirar a geração actual e as futuras a fazer tesouro do dom da nossa fé comum. Caminhando pela via indicada pelo Evangelho, observando os mandamentos e conformando a nossa vida de maneira cada vez mais próxima com a pessoa de Jesus Cristo, fareis a experiência da renovação profunda da qual hoje há uma urgente necessidade. Convido-vos a todos a perseverar neste caminho.

13. Amados irmãos e irmãs em Cristo, é com profunda preocupação por todos vós neste tempo de sofrimento, no qual a fragilidade da condição humana foi tão claramente revelada, que desejei oferecer-vos estas palavras de encorajamento e de apoio. Espero que as acolhais como um sinal da minha proximidade espiritual e da minha confiança na vossa capacidade de responder aos desafios do momento actual tirando renovada inspiração e força das nobres tradições da Irlanda de fidelidade ao Evangelho, de perseverança na fé e de firmeza na consecução da santidade. Juntamente com todos vós, rezo com insistência para que, com a graça de Deus, as feridas que atingiram muitas pessoas e famílias possam ser curadas e que a Igreja na Irlanda possa conhecer uma época de renascimento e de renovação espiritual.

14. Desejo propor-vos algumas iniciativas concretas para enfrentar a situação. No final do meu encontro com os Bispos da Irlanda, pedi que a Quaresma deste ano fosse considerada como tempo de oração para uma efusão da misericórdia de Deus e dos dons de santidade e de força do Espírito Santo sobre a Igreja no vosso país. Agora convido todos vós a dedicar as vossas penitências da sexta-feira, durante todo o ano, de agora até à Páscoa de 2011, por esta finalidade. Peço-vos que ofereçais o vosso jejum, a vossa oração, a vossa leitura da Sagrada Escritura e as vossas obras de misericórdia para obter a graça da cura e da renovação para a Igreja na Irlanda. Encorajo-vos a redescobrir o sacramento da Reconciliação e a valer-vos com mais frequência da força transformadora da sua graça.

Deve ser dedicada também particular atenção à adoração eucarística, e em cada diocese deverão haver igrejas ou capelas reservadas especificamente para esta finalidade. Peço que as paróquias, os seminários, as casas religiosas e os mosteiros organizem tempos para a adoração eucarística, de modo que todos tenham a possibilidade de participar deles. Com oração fervorosa diante da presença real do Senhor, podeis fazer a reparação pelos pecados de abuso que causaram tantos danos, e ao mesmo tempo implorar a graça de uma renovada força e de um sentido da missão mais profundo por parte de todos os bispos, sacerdotes, religiosos e fiéis.

Tenho esperança em que este programa levará a um renascimento da Igreja na Irlanda na plenitude da própria verdade de Deus, porque é a verdade que nos torna livres (cf. Jo 8, 32).

Além disso, depois de me ter consultado e rezado sobre a questão, tenciono anunciar uma Visita Apostólica a algumas dioceses da Irlanda, assim como a seminários e congregações religiosas. A Visita propõe-se ajudar a Igreja local no seu caminho de renovação e será estabelecida em cooperação com as repartições competentes da Cúria Romana e com a Conferência Episcopal Irlandesa. Os pormenores serão anunciados no devido momento.

Além disso proponho que se realize uma Missão a nível nacional para todos os bispos, sacerdotes e religiosos. Alimento a esperança de que, haurindo da competência de peritos pregadores e organizadores de retiros quer da Irlanda como de outras partes, e reexaminando os documentos conciliares, os ritos litúrgicos da ordenação e da profissão e os recentes ensinamentos pontifícios, alcanceis um apreço mais profundo das vossas respectivas vocações, de modo a redescobrir as raízes da vossa fé em Jesus Cristo e a beber abundantemente nas fontes da água viva que ele vos oferece através da sua Igreja.

Neste Ano dedicado aos Sacerdotes, recomendo-vos de modo muito particular a figura de São João Maria Vianney, que teve uma compreensão tão rica do mistério do sacerdócio. «O sacerdote, escreveu, possui a chave dos tesouros do céu: é ele quem abre a porta, é ele o dispensador do bom Deus, o administrador dos seus bens». O cura d’Ars compreendeu bem como é grandemente abençoada uma comunidade quando é servida por um sacerdote bom e santo. «Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o tesouro maior que o bom Deus pode dar a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina». Por intercessão de São João Maria Vianney possa o sacerdócio na Irlanda retomar vida e a inteira Igreja na Irlanda crescer na estima do grande dom do ministério sacerdotal.

Aproveito esta ocasião para agradecer desde já a quantos se comprometerem no empenho de organizar a Visita Apostólica e a Missão, assim como os tantos homens e mulheres que em toda a Irlanda já se comprometeram pela tutela dos jovens nos ambientes eclesiásticos. Desde quando a gravidade e a extensão do problema dos abusos sexuais dos jovens em instituições católicas começou a ser plenamente compreendido, a Igreja desempenhou uma grande quantidade de trabalho em muitas partes do mundo, a fim de o enfrentar e remediar. Enquanto não se deve poupar esforço algum para melhorar e actualizar procedimentos já existentes, encoraja-me o facto de que as práticas de tutela em vigor, adoptadas pelas Igrejas locais, são consideradas, nalgumas partes do mundo, um modelo que deve ser seguido por outras instituições.

Desejo concluir esta Carta com uma especial Oração pela Igreja na Irlanda, que vos envio com o cuidado que um pai tem pelos seus filhos e com o afecto de um cristão como vós, escandalizado e ferido por quanto aconteceu na nossa amada Igreja. Ao utilizardes esta oração nas vossas famílias, paróquias e comunidades, que a Bem-Aventurada Virgem Maria vos proteja e vos guie pelo caminho que conduz a uma união mais estreita com o seu Filho, crucificado e ressuscitado. Com grande afecto e firme confiança nas promessas de Deus, concedo de coração a todos vós a minha Bênção Apostólica em penhor de força e paz no Senhor.



Vaticano, 19 de Março de 2010, Solenidade de São José



Benedictus PP. XVI

terça-feira, 16 de março de 2010

PEDOFILIA E CELIBATO

Nas últimas semanas, alguns amigos da escola e da Igreja têm me perguntado sobre os casos de pedofilia envolvendo sacerdotes católicos, principalmente na Europa (e também no Brasil), inclusive envolvendo o irmão do Papa, Mons. Georg Ratzinger, e o próprio Papa Bento – quando este era arcebispo de Munique, na Alemanha. Essas lamentáveis notícias merecem uma pequena consideração.

Primeiramente, é fato verídico, triste e vergonhoso que alguns sacerdotes e religiosos aproveitam de sua condição de consagrados para abusarem e violentarem menores de idade, além de outros pecados horrendos que clamam a ira de Deus Todo Poderoso. Entretanto, há de se esclarecer que não é o celibato – recomendado por Cristo que se fez casto (Cf. Mt 19, 12. 29), pelo grande apóstolo Paulo (Cf. 1Cor 7, 1Tim 3,2) e pela Sagrada Tradição (Agostinho, Ambrósio, Jerônimo, os Padres do Deserto, Concílio Regional de Elvira, na Espanha em 303) – causador dessas perversidades e baixezas, pois não existe padre ou religioso pedófilo, mas pedófilo que se esconde por detrás das vestes religiosas. Assim, como há pedófilos (e não são poucos!) entre outros seguimentos da sociedade civil, pois se trata de uma desordem mental, um transtorno de personalidade.

Esta tétrica situação nos deve levar a refletir sobre a baixeza moral que permeia nossa sociedade hodierna, outrora cristã: pedofilia, pornografia, legalização da união livre de pessoas do mesmo sexo, aborto, eutanásia, corrupção, tráfico, etc. Desse modo, pretende-se deixar bem claro, de maneira inequívoca que a disciplina eclesiástica do celibato consagrado não tem nenhuma relação com os escândalos de pedofilia. Não é abolindo o celibato – como pensam alguns dentro e fora dos ambientes eclesiásticos – que se arranca esta praga daninha da Igreja! Mas, realizando uma autêntica seleção dos candidatos a trabalhar na vinha do Senhor como ministros consagrados, bem como uma sólida formação moral, humana, afetiva, doutrinária e um acompanhamento sério por parte dos formadores durante os anos de formação para a vida sacerdotal e religiosa, de maneira a discernir a intenção daqueles que batem a porta de nossos seminários e casas religiosas. Não queremos quantidade, mas qualidade: sacerdotes santos, fiéis a Cristo e a sua Igreja para a salvação do Povo de Deus e triunfo da Santa Religião. Como nos pede o Papa Bento neste ano sacerdotal: Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote!

Em relação as notícias que querem envolver nosso Beatíssimo Papa Bento XVI e seu irmão Mons. Georg, trata-se de campanha difamatória anti-clerical, anti-católica e, acima de tudo, anti-cristã por parte de uma mídia farisaica e atéia, procurando minar a autoridade moral e espiritual do Vigário de Cristo na Terra que está exercendo seu ministério petrino de modo sábio, santo e prudente, numa constante e árdua reforma e purificação no seio da Igreja de Cristo a semelhança dos santos pastores do passado: Leão I, Gregório I, Gregório VII , Bento, Bernardo, Francisco, Domingos, Pio V, Pio X ... O tempo e a história reconhecerão a grandeza e a santidade do Papa Ratzinger!

Aproveitemos este Tempo Quaresmal que a liturgia nos convida a oração, a penitência e a conversão para clamarmos com as palavras do salmista a misericórdia do Senhor para nós e para toda a Santa Igreja: “Miserere mei Deus, secundum magnam misericordiam tuam...” (Sl 50).

Segue abaixo alguns artigos e entrevistas bastante esclarecedores relacionados ao tema em questão:

· http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=275766 (celibato X escândalos: Pe. Lombardi);
· http://oblatvs.blogspot.com/2010/03/esclarecimentos-do-bispo-de-regensburg.html (campanha difamatória);
· http://www.zenit.org/article-24350?l=portuguese (Como a Igreja trata o assunto: Mons. Charles J. Scicluna);
· http://www.zenit.org/article-24335?l=portuguese (à ONU)
· http://www.zenit.org/article-24105?l=portuguese (à Igreja Irlandesa)
· http://www.zenit.org/article-19093?l=portuguese (à Igreja Australiana);

Nós, fiéis católicos e filhos da Igreja, devemos amar profundamente a nossa Mãe e Mestra da Verdade, pois ela não é obra humana, mas divina, querida pelo Senhor e confiada a Pedro (Cf. Mt16, 18). Que tenhamos uma fé sólida e firme, na certeza de que "as portas do inferno não prevalecerão". Que nada nem ninguém abalem a nossa fé em Cristo e na sua Igreja!

Por Maycon Sanches.

sábado, 13 de março de 2010

NOVOS SACERDOTES PARA A DIOCESE DE CAMPOS


A Diocese de Campos se alegra com a ordenação de mais seis novos padres. A celebração será no dia 29 de maio, às 09h00min, no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, à Av. Santo Afonso, 208, Parque Rosário, Campos-RJ.

Serão ordenados pela imposição de mãos e prece consecratória do Exmo Revmo Sr Bispo diocesano, Dom Roberto gomes Guimarães, os Diáconos: Alexandre R. Mothé, David B. de Souza, Fagner da S. Ribeiro, Giovanni F. Ribeiro, Lucas M. de Oliveira e Ramyro G. Armond.

O Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi o local da Ordenação Diaconal  da referida turma, no dia 12 de dezembro de 2009, ficando lotada de fiéis provenientes de diversas paróquias, de outras dioceses do Estado do Rio de Janeiro e de  fiéis vindos de outros estados, como o Espírito Santo, além, é claro, dos quase 100 padres que se fizerem presentes e de Dom Roberto Ferrería Paz, bispo auxiliar da Arquidiocese de Niterói.

É, sem dúvida alguma, um grande presente de Deus poder ordenar seis novos padres dentro do Ano Sacerdotal. Que eles sejam Sacerdotes fiéis, imitando a fidelidade de Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote!


Oração pelas Vocações


Senhor da messe e Pastor do rebanho,
faz ressoar em nossos ouvidos
o teu forte e suave convite: "Vem e segue-me!"
Derrama sobre nós o teu Espí­rito;
que Ele nos dê sabedoria para ver o caminho
e generosidade para seguir tua voz.
Senhor, que a messe não se perca
por falta de operários.
Desperta as nossas comunidades para a missão.
Ensina a nossa vida a ser serviço.
Fortalece os que querem dedicar-se ao Reino
na vida consagrada e religiosa.
Senhor, que o rebanho não pereça
por falta de pastores.
Sustenta a fidelidade de nossos bispos,
padres e ministros.
Dá perseverança a nossos seminaristas.
Desperta os nossos jovens
para o ministério pastoral em tua Igreja.
Senhor da messe e Pastor do rebanho,
chama-nos para o serviço do teu povo.
Maria, Mãe da Igreja,
modelo dos servidores do Evangelho,
ajuda-nos a responder sim. Amém.

"ADÃO CONTINUA A CAIR"


Com muita tristeza e vergonha assisti, no site do SBT, aos videos do programa "Conexão Repórter", sobre casos de Pedofilia com coroinhas em Paróquias da Diocese de Penedo (AL). As cenas são chocantes, retratam a realidade espiritual de que, dentro da Igreja, Satanás investe nas fraquesas dos pastores para confundir e dispersar as ovelhas do rebanho.  Refleti, então,  sobre a real  necessidade de intensificarmos nossas orações pela conversão dos sacerdotes, dos seminaristas  e pelo envio de vocações santas para a messe.  É preciso oferecermos, sobretudo nessa quaresma, pequenos sacrificios em reparação dos pecados cometidos pelos sacerdotes, aqueles que são Cristo para nós, que tanto ofendem e ferem o coração do Senhor! 

Assistindo aos videos veio ao meu coração o texto da oração da IX Estação da Via-sacra do Papa Bento XVI:

       "Senhor, muitas vezes a vossa Igreja nos parece uma barca que está para afundar, uma barca que solta àgua por todos os lados. E mesmo no vosso campo de trigo, vemos mais cizânia que trigo. O vestido e o rosto tão sujos da vossa Igreja nos horrorizam. Mas somos nós mesmos que o sujamos! Somos nós mesmos que vos traímos sempre, depois de todas as nossas grandes palavras, de todos os nossos gestos. Tende piedade da vossa Igreja: também dentro dela, Adão continua a cair. Com a nossa queda, nós vos jogamos ao chão, e Satanás ri porque espera que não mais conseguireis levantar-vos daquela queda; espera que vós, ao ser arrastado na queda da vossa Igreja, ficareis por terra derrotado. Mas Vós vos erguereis. Vós vos levantastes, ressuscitastes e podeis levantar-nos também a nós. Salvai e santificai a vossa Igreja. Salvai e santificai a todos nós."


 É importante aqui salientar, que a pedofilia está presente em diversos seguimentos da sociedade, na família sobretudo. Seja padre, pai de família, pastor evangélico, médico, qualquer um que seja, pedofilia é crime e deve haver justiça! Não podemos esquecer que em todos os setores da sociedade, onde acontece este tipo de crime, existem pessoas corretas e não corretas, joio e trigo crescendo juntos... Por isso não se pode jogar a àgua da bacia fora junto com a criança, pois existem pessoas boas, justas, honestas, saudáveis (no contexto: sexualmente falando) em todas as instituições, principalmente na Igreja, a bola da vez!


Pela sua Dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro!

quinta-feira, 11 de março de 2010

TRANSMISSÃO NA INTERNET DO CONGRESSO TEOLÓGICO



Non Praevalebunt informa: 

O Congresso Teológico Internacional “Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote”, promovido pela Congregação para o Clero, nos dias 11 e 12 de março , na Sala Magna da Pontifícia Universidade Lateranense, será transmitido pelo site do Ano Sacerdotal, onde será possível seguir todas as Conferências.
Bom congresso!

terça-feira, 9 de março de 2010

"ECONOMIA E VIDA"


A Campanha da Fraternidade 2010 é a terceira ecumênica, realizada em parceria com as demais igrejas do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), como já ocorrido em 2000 e em 2005. Com o seu lema extraído de Mateus 6, 24, “vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” ela nos convida a uma correta política do uso dos bens materiais, que busque a superação da ganância, da avareza e do consumismo desregrado, agradando a Deus e colocando-se sempre disponível à promoção da vida e do bem comum.

O dinheiro não pode ser em nossas vidas um ídolo que nos controla a consciência, movendo-nos à prática materialista do consumismo, onde o “ter” é mais importante do que as pessoas, e a abundância desnecessária é indiferente a tantos que não têm nem mesmo o essencial para sua sobrevivência e bem-estar. É preciso abrir-nos a uma economia que seja solidária com os mais pobres e excluídos de nossa sociedade, para que também eles tenham sua dignidade humana salvaguardada, e tenham acesso ao conjunto de condições sociais necessário ao seu integral desenvolvimento pessoal.

É de suma importância desenvolver em nós a consciência de que a solução para os problemas sociais não dependem apenas dos governantes, ou daqueles que detêm o poder aquisitivo, não é apenas de denúncias e passeatas que consistem os passos para um mundo melhor, todos nós temos a nossa parcela de contribuição para uma um sociedade mais justa e fraterna, e para isto, se faz necessário cuidarmos melhor do meio ambiente em que estamos inseridos, potencializar a nossa caridade para com os menos favorecidos, sermos mais justos em nossas relações, encarando cada individuo do nosso convívio não como uma mercadoria, mas como pessoa muito amada por Deus.

Além disso, é utópico achar que sozinhos, ou que apenas com os nossos escassos recursos humanos, nós iremos mudar o mundo. A caridade sem Deus é vazia de eficácia! O homem só será bom quando conhecer a Bondade, só vai amar quando for tocado pelo Amor e só será justo quando tiver o seu coração verdadeiramente convertido Àquele que é o justo juiz.

O Tempo da Quaresma, no qual é trabalhada a Campanha da Fraternidade, nos convida à conversão. voltemos ao Senhor! Sejamos mais fraternos e solidários, testemunhemos o Deus de amor e justiça com nossas vidas, Ele nos chama, nos envia e nos dará a força necessária para sermos “sal da terra e luz do mundo” (Cf. Mt 5, 13-15).

sábado, 6 de março de 2010

44º DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS


Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais

16 de maio de 2010
Mensagem do Santo Padre



Queridos Irmãos e Irmãs

O tema do próximo Dia Mundial das Comunicações Sociais – “O sacerdote e a pastoral no mundo digital: os novos media ao serviço da Palavra” – insere-se perfeitamente no trajecto do Ano Sacerdotal e traz à ribalta a reflexão sobre um âmbito vasto e delicado da pastoral como é o da comunicação e do mundo digital, que oferece ao sacerdote novas possibilidades para exercer o seu serviço à Palavra e da Palavra. Os meios modernos de comunicação fazem parte, desde há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contacto com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal.



A tarefa primária do sacerdote é anunciar Cristo, Palavra de Deus encarnada, e comunicar a multiforme graça divina portadora de salvação mediante os sacramentos. Convocada pela Palavra, a Igreja coloca-se como sinal e instrumento da comunhão que Deus realiza com o homem e que todo o sacerdote é chamado a edificar n’Ele e com Ele. Aqui reside a altíssima dignidade e beleza da missão sacerdotal, na qual se concretiza de modo privilegiado aquilo que afirma o apóstolo Paulo: “Na verdade, a Escritura diz: “Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido”. [...] Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Mas como hão-de invocar Aquele em quem não acreditam? E como hão-de acreditar n’Aquele de quem não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar, se não houver quem lhes pregue? E como hão-de pregar, se não forem enviados?” (Rm 10,11.13-15).



Hoje, para dar respostas adequadas a estas questões no âmbito das grandes mudanças culturais, particularmente sentidas no mundo juvenil, tornaram-se um instrumento útil as vias de comunicação abertas pelas conquistas tecnológicas. De facto, pondo à nossa disposição meios que permitem uma capacidade de expressão praticamente ilimitada, o mundo digital abre perspectivas e concretizações notáveis ao incitamento paulino: “Ai de mim se não anunciar o Evangelho!” (1 Cor 9,16). Por conseguinte, com a sua difusão, não só aumenta a responsabilidade do anúncio, mas esta torna-se também mais premente reclamando um compromisso mais motivado e eficaz. A este respeito, o sacerdote acaba por encontrar-se como que no limiar de uma “história nova”, porque quanto mais intensas forem as relações criadas pelas modernas tecnologias e mais ampliadas forem as fronteiras pelo mundo digital, tanto mais será chamado o sacerdote a ocupar-se disso pastoralmente, multiplicando o seu empenho em colocar os media ao serviço da Palavra.



Contudo, a divulgação dos “multimédia” e o diversificado “espectro de funções” da própria comunicação podem comportar o risco de uma utilização determinada principalmente pela mera exigência de marcar presença e de considerar erroneamente a internet apenas como um espaço a ser ocupado. Ora, aos presbíteros é pedida a capacidade de estarem presentes no mundo digital em constante fidelidade à mensagem evangélica, para desempenharem o próprio papel de animadores de comunidades, que hoje se exprimem cada vez mais frequentemente através das muitas “vozes” que surgem do mundo digital, e anunciar o Evangelho recorrendo não só aos media tradicionais, mas também ao contributo da nova geração de audiovisuais (fotografia, vídeo, animações, blogues, páginas internet) que representam ocasiões inéditas de diálogo e meios úteis inclusive para a evangelização e a catequese.



Através dos meios modernos de comunicação, o sacerdote poderá dar a conhecer a vida da Igreja e ajudar os homens de hoje a descobrirem o rosto de Cristo, conjugando o uso oportuno e competente de tais meios – adquirido já no período de formação – com uma sólida preparação teológica e uma espiritualidade sacerdotal forte, alimentada pelo diálogo contínuo com o Senhor. No impacto com o mundo digital, mais do que a mão do operador dos media, o presbítero deve fazer transparecer o seu coração de consagrado, para dar uma alma não só ao seu serviço pastoral, mas também ao fluxo comunicativo ininterrupto da “rede”.



Também no mundo digital deve ficar patente que a amorosa atenção de Deus em Cristo por nós não é algo do passado nem uma teoria erudita, mas uma realidade absolutamente concreta e actual. De facto, a pastoral no mundo digital há-de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que “Deus está próximo, que, em Cristo, somos todos parte uns dos outros” [Bento XVI, Discurso à Cúria Romana na apresentação dos votos de Natal: "L’Osservatore Romano" (21-22 de Dezembro de 2009) pág. 6].



Quem melhor do que um homem de Deus poderá desenvolver e pôr em prática, mediante as próprias competências no âmbito dos novos meios digitais, uma pastoral que torne Deus vivo e actual na realidade de hoje e apresente a sabedoria religiosa do passado como riqueza donde haurir para se viver dignamente o tempo presente e construir adequadamente o futuro? A tarefa de quem opera, como consagrado, nos media é aplanar a estrada para novos encontros, assegurando sempre a qualidade do contacto humano e a atenção às pessoas e às suas verdadeiras necessidades espirituais; oferecendo, às pessoas que vivem nesta nossa era “digital”, os sinais necessários para reconhecerem o Senhor; dando-lhes a oportunidade de se educarem para a expectativa e a esperança, abeirando-se da Palavra de Deus que salva e favorece o desenvolvimento humano integral. A Palavra poderá assim fazer-se ao largo no meio das numerosas encruzilhadas criadas pelo denso emaranhado das auto-estradas que sulcam o ciberespaço e afirmar o direito de cidadania de Deus em todas as épocas, a fim de que, através das novas formas de comunicação, Ele possa passar pelas ruas das cidades e deter-se no limiar das casas e dos corações, fazendo ouvir de novo a sua voz: “Eu estou à porta e chamo. Se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo” (Ap 3, 20).



Na Mensagem do ano passado para idêntica ocasião, encorajei os responsáveis pelos processos de comunicação a promoverem uma cultura que respeite a dignidade e o valor da pessoa humana. Este é um dos caminhos onde a Igreja é chamada a exercer uma “diaconia da cultura” no actual “continente digital”. Com o Evangelho nas mãos e no coração, é preciso reafirmar que é tempo também de continuar a preparar caminhos que conduzam à Palavra de Deus, não descurando uma atenção particular por quem se encontra em condição de busca, mas antes procurando mantê-la desperta como primeiro passo para a evangelização. Efectivamente, uma pastoral no mundo digital é chamada a ter em conta também aqueles que não acreditam, caíram no desânimo e cultivam no coração desejos de absoluto e de verdades não caducas, dado que os novos meios permitem entrar em contacto com crentes de todas as religiões, com não-crentes e pessoas de todas as culturas. Do mesmo modo que o profeta Isaías chegou a imaginar uma casa de oração para todos os povos (cf. Is 56,7), não se poderá porventura prever que a internet possa dar espaço – como o “pátio dos gentios” do Templo de Jerusalém -também àqueles para quem Deus é ainda um desconhecido?



O desenvolvimento das novas tecnologias e, na sua dimensão global, todo o mundo digital representam um grande recurso, tanto para a humanidade no seu todo como para o homem na singularidade do seu ser, e um estímulo para o confronto e o diálogo. Mas aquelas apresentam-se igualmente como uma grande oportunidade para os crentes. De facto nenhum caminho pode, nem deve, ser vedado a quem, em nome de Cristo ressuscitado, se empenha em tornar-se cada vez mais solidário com o homem. Por conseguinte e antes de mais nada, os novos media oferecem aos presbíteros perspectivas sempre novas e, pastoralmente, ilimitadas, que os solicitam a valorizar a dimensão universal da Igreja para uma comunhão ampla e concreta; a ser no mundo de hoje testemunhas da vida sempre nova, gerada pela escuta do Evangelho de Jesus, o Filho eterno que veio ao nosso meio para nos salvar. Mas, é preciso não esquecer que a fecundidade do ministério sacerdotal deriva primariamente de Cristo encontrado e escutado na oração, anunciado com a pregação e o testemunho da vida, conhecido, amado e celebrado nos sacramentos sobretudo da Santíssima Eucaristia e da Reconciliação.



A vós, queridos Sacerdotes, renovo o convite a que aproveiteis com sabedoria as singulares oportunidades oferecidas pela comunicação moderna. Que o Senhor vos torne apaixonados anunciadores da Boa Nova na “ágora” moderna criada pelos meios actuais de comunicação.



Com estes votos, invoco sobre vós a protecção da Mãe de Deus e do Santo Cura d’Ars e, com afecto, concedo a cada um a Bênção Apostólica.



Vaticano, 24 de Janeiro – dia de São Francisco de Sales – de 2010





ANO SACERDOTAL

A Igreja Universal, convocada pelo Papa Bento XVI, celebra o Ano Sacerdotal (2009 – 2010), Tempo este de orações pela santificação dos sacerdotes, para que estes, de fato, vivam de acordo com o modelo sacerdotal do Coração do Senhor. O lema “Fidelidade de Cristo, fidelidade do Sacerdote” nos leva a refletir profundamente sobre o autêntico sentido e missão do sacerdócio católico e nos desafios que este implica. Ser sacerdote em meio ao mundo controverso em que vivemos é, sem dúvida alguma, portasse como parâmetro moral, ético e humanitário, crendo em meio ao desalento que, “é Ele que nos fortalecerá até o fim” (Cf. 1Cor 1,8).
A Igreja de cristo necessita de homens santos e sábios, que respondam ao chamado de Deus para uma entrega livre de si ao serviço sacerdotal, hoje. Homens de têmpera, fidelidade à doutrina e de profundo amor a Deus e a cada homem, imagem do Senhor.
Pelo santo batismo cada cristão se torna, pela unção do Espírito Santo, participante da missão de Jesus de evangelizar os pobres, sarar os contritos de coração, anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos e proclamar o tempo da graça do Senhor (Cf. Lc 4,16-19). O sacerdote, de modo maior, principalmente pelo ministério que lhe foi confiado, é convocado por Deus para ser “outro Cristo”, ser semente que morre para promover Vida. É chamado a lutar com veemência contra os costumes permissivos e degradantes tão presentes em nossa sociedade, frutos de uma mentalidade deturpada pelos valores desprezíveis do Paganismo arrogante, que sempre quis enganar e desviar da Verdade os homens, roubando-lhes a dignidade e a liberdade que gozam como filhos de Deus em Jesus Cristo no Espírito.
É crescente em nosso tempo o paganismo relativista, que despede Deus das consciências, afastando os homens da Contemplação de Deus, fazendo-os considerarem apenas suas necessidades temporais, buscando de modo desenfreado a satisfação dos seus prazeres e apetites. Daí cada homem cria para si ídolos, seja pelo consumismo exagerado, que é fruto do materialismo, que gera a avareza, provocando desigualdades na sociedade, onde alguns têm muito e outros nada têm, seja também por meio da deturpação da sexualidade humana, que insiste em mudar a ordem natural dada por Deus, fruto da sensualidade crescente nos meios de comunicação audiovisuais, gerando toda espécie de promiscuidade e alienação, sobretudo em meio aos jovens.
As pessoas nesse contexto apresentado, vão se “coisificando”, perdendo a capacidade de raciocinar sobre a Verdade, pois estão totalmente sobre o controle daqueles “ídolos” que lhes controlam a consciência e seus atos. O sacerdócio católico é chamado a ser hoje um sinal de Deus para o mundo, um sinal de libertação para os homens e mulheres do nosso tempo que estão afastados do verdadeiro Deus, cegos e entregues à escravidão do pecado imposto pelos esquemas covardes que querem destruir a vida humana para promoverem seus interesses.
O Sacerdote de hoje, deve, como verdadeiro discípulo e missionário do Senhor Jesus, denunciar e combater todo erro e todo mal que exista em nosso meio: As drogas, a ganância, o poder de opressão, o uso indevido do sexo, o aborto, a violência e etc. E assim ajudar o mundo a fazer o caminho interior do reencontro com Deus, da reativação da amizade com Ele, valorizando cada individuo como pessoa muito amada pelo Senhor, fazendo-o conhecedor dessa verdade e devolvendo-lhe a dignidade de vida, promovendo a solidariedade, a paz e o diálogo, levando cada homem a perceber que esta vida é fugaz e que a verdadeira e eterna vida, e tesouro estão em Deus.
Motivados pelo ano sacerdotal, rezemos pela fidelidade dos nossos sacerdotes. Que Deus abençoe os esforços e pequenos sacrifícios de cada sacerdote, inserido em meio às dores do mundo, em prol do Reino. Que suas vidas sejam trigo que se imola para que a obra de Deus cresça e frutifique. Que em seus corações esteja a certeza de que “Aquele que começou a boa obra, há de levá-la à perfeição” (Fl 1,6), pois é fiel Aquele que fez a promessa! (Cf. Hb 10,23).